junho 17, 2010



H ia na rua e encontrava canteiros com formas diversas
circulares, quadrados, hexagonais, octogonais
por vezes saltava para dentro de um e ficava a olhar à sua volta, tentando perceber o que se passava.
O espaço lá dentro ora estava muito cheio ora muito vazio,
mas o comportamento dos que aí se encontravam era idêntico;
num, todos choravam, e H não sentia vontade de chorar;
noutro, todos gritavam e batiam palmas e H não lhe apetecia festejar;
noutro ainda, todos riam e H não tinha vontade de rir.
E então voltava a saltar para o lado de fora, e continuava o seu caminho.
Num desses lugares ainda conseguiu perguntar a uma miúda que tinha a cara colada à sua por falta de espaço, porque é que os canteiros eram sempre fechados. E ela disse-lhe que era para que não restassem dúvidas. E foi então que H percebeu o seu estranhamento. Tinha tantas dúvidas quanto certezas. E decidiu nunca mais colocar-se do lado de dentro e permanecer de fora, sozinha, contornando aqueles canteiros de gente cheia de certezas.
Fora dos canteiros, para além dela e de outros como ela que seguiam o seu caminho; havia os que tinham desistido de caminhar e estavam deitados ou sentados pelo chão, alienados; os que caminhavam em círculo, não mostrando interesse por mais nada a não ser por si próprios; e os que andavam perdidos, tolhidos por  medos e angustias.
H sentia compaixão por todos, mas sabia que não havia nada que pudesse fazer para os ajudar.
No início ainda se oferecera para transportar alguns às suas costas; mas a boleia acabava sempre antes do tempo: ou ela desistia por o peso ser demasiado; ou, na maior parte das vezes, eram eles que desistiam para regressarem aos lugares de sempre.
Quando alguém lhe perguntava para onde se dirigia, H respondia que não sabia. Era o caminho que a escolhia e não ela que escolhia o caminho. Ele surgia-lhe debaixo dos pés à medida que andava. E era só isso.

Sem comentários:

StatCounter