julho 19, 2010


até onde terei de me afastar para chegar?

chegar a casa pelo caminho inverso inscrito no verso do verso

tudo o que escrevo são hesitações da criança que ainda não se consegue colocar de pé sem cair, escrever é aprender a andar sozinha, de bicicleta já sei

imaginar o ventre cheio de água,

deixá-la repousar

ir entrando devagar no lago uterino

até imergir

no centro dos círculos perfeitos

... como pedra

nivelar as águas no interior do corpo

só a água nos dá o nível, ouvi alguém dizer

entrar na casa de um estranho e ser tratada como família era um costume antigo, quase esquecido,

embora nos estejam sempre a lembrar que somos todos irmãos

acordar o ão do acorde

o vazio assusta-te?

por isso preenches de qualquer maneira o espaço em volta

vazio silêncio solidão escuridão

tudo aquilo que nos assusta desde pequenos quando foi de lá que viemos

assim que nascemos apegamo-nos à luz, à voz, ao afecto, ao corpo, ao calor, ao alimento, ao embalo...

e levamos uma vida inteira a libertarmo-nos de tudo isso, preparando a morte

xerazade entretinha o rei xariar com as suas histórias infindáveis adiando a morte,

sendo ela uma mulher tão sábia, o que temia?

mais do que temer a morte ela quer salvar o homem

Sem comentários:

StatCounter