(em memória de José Augusto Mourão 1947-2011)
apocalipse |
virei reiteradamente como as estações das flores virei como o animal ou o corsário semear o vento que vos lembre a morte (e vós que vos fechais em vossa vã imagem e vossos trapos, vós que adorais Deus olhando-vos ao espelho, tremei de vosso assento de carne fustigada há muito que Ele deixou às vossas portas as sandálias) virei na eclosão das vagas envolto em tudo quanto a vida trabalha virei no desregramento do vento e em vosso pasmo assim eu cante o vinho que sobe o rio às costas dos vindimadores virei no circuito da palavra que se quebra como um ramo de água e deixareis as armas para falar sem ritos morre-se quando de nós ficam ficaram restos que ninguém recolhe virei no som de Stockhausen e quantos desconstruíram a harmonia e o mundo antigo para que habiteis o tempo como quem habita as fontes cheios de barulhos por dentro como o vinho à cabeça das vindimadeiras (José Augusto Mourão, "O nome e a forma", Poesia Reunida, Assírio e Alvim, 2009) |
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