julho 23, 2011






2.



Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:

a – Esfregar pedras na paisagem.

b – Perder a inteligência das coisas para vê-las.
(colhida em Rimbaud)

c – Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.

d – Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.

e – Perguntar distraído:  - o que há de você na água?

f – Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua. Por isso as crianças e as putas entendiam-no.

g – Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de olho, moscas de pensão.

h – Aprender a capinar com enxada cega.

i – Num dia de lazer, compor um muro podre para os caramujos.

j – Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam carrear para o poema um gosto de chão – como cabelos desfeitos no chão – ou como o bule de Braque – áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro – um amarelo grosse de ouro na terra, carvão de folhas.

l – Jogar pedrinhas nim moscas...

(Manoel de Barros, “Matéria de Poesia”, Record)








































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