julho 31, 2011





(desenho de Cristina Lamas)

do meu corpo saem linhas invisíveis que me ligam a outros corpos; por vezes as linhas ligam boca a boca e não descem nem sobem, à cabeça, aos órgãos inferiores; outras vezes, as linhas partem de todos os lugares do corpo; ligam-nos num emaranhado de fios rígidos, que aprisionam; outras, os fios são elásticos; agarram-nos mas também nos deixam ir; são de cumprimento infinito esses fios e amparam-nos a queda; sabemos que se cairmos eles nos puxarão para si e cuidarão as feridas; são impossíveis de encontrar, estes fios, mais preciosos que ouro; se os procurarmos eles desaparecem; não se deixam buscar; temos de ser buscados; ficar muito quietos; suportar ausências, o vazio sem fim dos dias inúteis; só quem se dispõe a aprender a arte do vazio e da inutilidade é apanhado pelas suas redes; há um pescador no mar.





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