passou por mim a gritar

PODEM-ME TIRAR TUDO,

MAS MESMO ASSIM SOBREVIVEREI

as pessoas com quem se cruzava sentiam-se incomodadas com aquela voz histérica e andrajosa, desviavam o olhar e aceleravam o passo; os poucos de nós que parámos, para tentar perceber o que se estava a passar, vimos um homem comum, sem vestígios de loucura, ou raiva, ou desespero, apenas alguém muito seguro do que dizia e que fazia questão de o dizer bem alto, para todos, como se tivesse feito a maior descoberta do mundo e a quisesse partilhar, como se nos quisesse infectar

no dia seguinte, um dos jornais a dias mais sensacionalista anunciava que tinha sido detectado um novo vírus e que pelo menos uma pessoa tinha sido infectada

a notícia era extensa e causava arrepios a quem lia,

o que não dizia, porque não entendia,

é que, pela primeira vez, o veredicto final não era a morte, mas a Vida

Eterna

(dos que se deixam contaminar)