a imagem é o silêncio da linguagem
deixa que a imagem se faça em ti como se não pudesses falar: como se sentisses a impotência de dizer seja o que for
que eu te ame - que sobre mim caia um voto de silêncio - que tu passes a ser uma imagem...
talvez o que procuremos no amor seja tocar no vazio de um corpo (quanto cuidado, porém, quanta discrição, para rodear esse vazio)
cada amante procura agarrar a alma do outro. mas um vazio não se agarra nem se toca: é o lugar onde o toque desfalece. daí a sensação de o corpo do outro se escapar por entre o nosso corpo, daí o peso dos corpos só ressurgir depois do desfalecimento de ambos
os amantes dão-se. a forma reflexiva do verbo indica que eles não trocam entre si objectos nem sobretudo o seu próprio corpo como objecto (parcial ou total). amar significa dar-se que significa dar-vazio. que não quer dizer nada - mas mostra o seu esvaziamento
ser invadido pelo vazio de um corpo até deixar de sentir o seu próprio corpo: isto define o amor como plenitude vazia
o mesmo é dizer que cada corpo amante/amado liberto é uma alma, e que ele morre nessa dádiva (porque a alma só existe na medida em que há o sentir-se a si mesmo morto, o deixar-de-se-sentir graças ao outro). e que ambos ressurgem após a dádiva: a ressurreição dos corpos é o amor - a única ressurreição
com os olhos fechados e o toque a desfalecer: assim se pressente a forma de uma alma
(enquanto não chego ao livro de Tomás Maia "assombra - ensaio sobre a origem da imagem", vou o lendo aqui - http://nunopedrocabral.blogspot.pt/ e trazendo aos poucos para aqui)
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