janeiro 23, 2013

# Baú I






(andei a vasculhar no baú, e encontrei alguns textos antigos que estavam esquecidos; retoquei-os e resolvi trazê-los para aqui, para se sentirem mais acompanhados e não ralharem comigo por défice de atenção)




A SEPARAR-NOS
uma folha branca de papel
às vezes arame farpado (mesmo que eu não goste de me ouvir a dizer estas palavras)
às vezes uma malha tão espessa que não deixa sequer passar as lágrimas
às vezes uma liga de metal, a mais rija até hoje descoberta
às vezes
uma simples folha. branca. de papel.

na face escrevo as minhas palavras simples
aquelas que sempre soube mesmo antes de me saber
palavras que de tão simples não constam dos diccionários
(não valem a pena, dessas não temos dúvidas, dizem os entendidos!)
mas eu tenho,
muitas dúvidas,
tantas
que às vezes escrevo mar e volto atrás e penso se não será antes oceano, rio, ou apenas água, simplesmente água
às vezes escrevo feliz e volto atrás para ver se será mesmo isso ou algo que... ou-vi no sorriso de alguém
e às vezes escrevo amor e não sei se será bem isso, mas mesmo assim escrevo, sem ter a certeza, porque senão quando é que irei escrever? Quando?
e às vezes ou quase sempre escrevo aquilo que não queria só escrever mas...
a separar-nos uma folha. branca. de papel.

a separar-nos uma fina folha branca de papel
tão fina que eu quase te consigo aperceber do lado de lá
calco então com o meu lápis bem afiado para ver se alguma coisa aparece
em pequena apareciam sempre coisas, mas pensando bem quem as colocava lá era eu
e nada, não aparece nada, afio melhor o lápis e calco e nada, não aparece nada.

a separar-nos uma leve folha branca de papel
tão leve que nem o vento a consegue levar, passa por ela como se nem existisse
eu tinha esperanças no vento, o vento norte, uma rajada forte
mas olho e vejo-a, ela continua inerte e lisa como se nada
a separar-nos.

e se eu escrever, escrever, escrever
e se eu preencher a frente da folha com o teu nome e o verso com o meu
de cima abaixo, de um lado ao outro, sem respeitar as margens, até
que não fique sequer um bocadinho de branco por preencher.

A separar-nos uma folha negra de papel que já foi branca.
















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