janeiro 26, 2013

há livros que nos agarram desde a primeira página







"No tumulto iconoclasta do Maio de 68, num dos muros da honorável Sorbonne, um estudante irritado escreveu um dia:
        - DEUS MORREU - assinado: Nietzsche.
Mas, a seguir a ele, passou um dos seus congéneres, cheio de bom senso e malícia, que escreveu:
        - NIETZCHE MORREU - assinado: Deus.
Jogo de palavras fácil contra um slogan gasto? Vejamos. Todo o futuro do Ocidente joga-se, talvez, aqui, no face a face paradoxal destas duas constatações.
Porque esta é exactamente a dupla e crucial evidência que mina os nossos espiritos neste fim de século: por um lado, o Deus de antigamente está morto e já não podemos, honestamente, acreditar nele,  pelo menos como os nossos pais "acreditavam"; e, por outro, seres de carne, de sangue e de consciência, mas também de desejo e de desejo de sentido, nós não nos satisfazemos com o nada, com a eliminação de toda a transcendência. Quer queiramos quer não, o homo sapiens é, na sua essência, homo religiosus.
Consciente deste aquartelamento da alma contemporânea, Annick de Souzenelle dedica-se inteiramente, de há trinta anos para cá, a encontrar a sua forma de exprimir - mas acima de tudo de viver - um alargar da consciência que compreenda e integre este desejo de Deus que se revela no homem. (...)"

(Annick de Souzenelle, "La Parole au coeur du corps", Entretiens avec Jean Mouttapa, 1993, Albin Michel, pag 7)











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