fevereiro 14, 2013

notas avulso sobre desenho









No desenho de modelo vivo não sinto o modelo como exterior a mim, trata-se sempre de um nós; o modelo que está à nossa frente e para onde o nosso olhar se dirige devolve ao papel, se o deixarmos, a mão que segura o lápis. E desenhamo-nos se nos encontrarmos naquele exacto instante.

Desenhar como quem se faz ao caminho, sem a preocupação de chegar a um lugar; não procurar um resultado, confiar: entregar o olhar, entregar a mão, entregar o braço, entregar o corpo todo àquele momento fora do tempo, porque não há tempo enquanto vivemos essa entrega total. 

O estado do nosso ser interior expressa-se no desenho afectando a qualidade do traço. O traçado que fica na folha, tal como o registo de um electrocardiograma, é obtido pelas ondas do nosso pulsar, produzidas pela contracção e descontracção de todo o corpo e permite o diagnóstico do nosso ser mais íntimo, das suas afecções e perturbações. 












2 comentários:

ars disse...

a entrega sem tempo e com a mão solta o resultado é sempre surpreendente.
agora surpreendeste-me :-)
o desenho é lindo

mp disse...

querida ars foi um dia difícil, tinha a mão perra por ter estado dez anos sem desenhar, mas é sempre uma experiência muito rica de entrega ao momento... um beijo grande e obrigada pelas tuas palavras!

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