julho 26, 2011





(livro clareira)


Clareiras do Bosque

A clareira do Bosque é um centro onde nem sempre é possível entrar; da extrema olha-se para ela e o aparecimento de algumas pegadas de animais não ajuda a dar esse passo. É outro reino que uma alma habita e guarda. Algum pássaro avisa e chama para ir até onde a sua voz for marcando. E obedece-se a ela; depois não se encontra nada, nada que não seja um lugar intacto que parece ter-se aberto nesse único instante e que nunca mais se dará assim. Não há que procurá-lo. Não há que procurar. É a lição imediata das clareiras do bosque: não há que procurá-las, nem tão-pouco procurar nada delas. Nada determinado, representado previamente, já sabido. E a analogia da clareira com o templo pode desviar a atenção.
Um templo, mas feito por si próprio, por “Ele”, por “Ela” ou por “Isto”, embora o homem com o seu labor e com a sua simples passagem o tenha lentamente aberto ou ampliado. A acção humana não conta, e quando conta dá então algo de praça, não de templo. Um centro em toda a sua plenitude, por isto mesmo, porque o esforço humano fica apagado, como desde sempre se pretendeu que aconteça no templo edificado pelos homens à sua divindade, que pareça feito por ela própria, e as imagens dos deuses e seres sobre-humanos que sejam a marca impressa desses seres, nos elementos que se conjugam, que jogam de acordo com esse ser divino. (...)

(María Zambrano, Clareiras do Bosque, Relógio D'Água)



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