setembro 27, 2011




(pormenor da Melancolia de Durer)


(...) O reino não é a prisão, mas há entre os dois um laço. Para libertar a princesa presa na torre é preciso um homem corajoso. Pode-se forçar a porta. Com que golpes? Com paciência.
3. Tiago fala da paciência como virtude para o tempo da espera. O juiz está à porta. Kafka escreveu que a porta estava aberta mas que o camponês diante da porta ficava especado e não entrava. Diante da lei, estarrecemos. A porta está aberta: "todos os erros humanos são impaciência... Existem dois pecados humanos capitais, dos quais todos os outros derivam: a impaciência e o desleixo. Por causa da impaciência os homens foram expulsos do paraíso, por causa do desleixo não voltam para trás. Mas talvez só exista um pecado capital: a impaciência. Por causa da impaciência foram expulsos, por causa dela não voltam para trás."
(...)
8. A comunidade é o lugar em que se partilha o que nos divide e o que nos liga - a liberdade. A nossa existência é insular, portuária. As ilhas são os lugares da felicidade. Mas são precisas pontes, é preciso o colóquio entre as ilhas. (...) Temos que contar com o que há, encontrar um sítio onde habitar, conviver com a enfermidade, que é o outro lado da vida (Novalis). O Evangelho é apresentado como exortação à vigilância activa, à invenção do quotidiano, não à sua fuga. Sem vigilância, todos os monstros acorrem. Sem vigilância crítica todos os demónios do fundamentalismo autoritário, da mão de ferro, da surdez dogmática regressam. Ora, o jardim do demónio é o deserto. A injunção de Jesus é para deixar o deserto e entrar no quotidiano, no jardim da vida onde não faltam serpentes. (...)


(excerto de uma homilia de Fr. José Augusto Mourão, publicada no livro "A palavra e o espelho")



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