notas de uma leitora
(para João Luís Barreto Guimarães)
O que eu mais gostei de Viena foi dos cafés
de Praga foi dos cafés
do Porto foi dos cafés
de Lisboa ... estou ainda à espera de um café
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7 de Março
perdi um lenço numa rua do Porto
9 de Junho
encontrei-o num poema em Lisboa
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10 de Julho
é uma mulher que te conhece as palavras, apenas escritas
10/06/01
(para Nâzim Hikmet)
finalmente
abri a porta de minha casa
sentei-me na soleira
olhei a sombra
pela primeira vez
olhei cada pessoa que passava retendo-a
pela primeira vez
de mo ra da men te
o meu olhar sobre cada pedra
cada pedaço de coisa outrora coisa realmente
insisti num outro olhar
os meus dedos
ca ri nho sa men te
sobre o pelo de um cão
vadio
o que me demorou tanto se afinal
uma simples porta e não ...?
hoje, se passares, olhar-te-ei de frente
mesmo que depois disso a porta se feche atrás de mim.
11/06/01
(para José Tolentino Mendonça)
morrer atropelada
com um livro de poesia na mão
aberto numa página ao acaso
que seja toda a minha vida
que seja de igual para igual.
20/06/01
(para Enrique Vila-Matas)
Luzias a dor ao passares
gaivota ingénua
confundias amor com calor
corrias para o outro julgando-o o sul
voltavas atrás
não tinhas bem a certeza
demoravas-te
lembravas-te então da bússola que deixaras esquecida no
bolso de fora de uma mochila
há muito perdida
parecia-te indispensável
tarde de mais
ninguém a sul nem a norte nem a este nem a ...
caís-te em ti
hoje pelo menos sabes que não te és dispensável
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